Para quem me acompanha sabe que nestas últimas semanas eu entrei em processo de recuperação de uma lesão desde o início de Março, antes que ficasse grave eu reduzi a intensidade e foquei neste processo já pensando nos grandes objetivos que tenho pela frente (Campeonato Mundial e as UTMB’s). Passos para trás para poder ficar mais forte lá na frente.
No meio deste caminho tenho outras provas que usarei como preparação, mas que não são meu alvo. Eis que do nada eu recebi um convite via Instagram para correr a Patagônia Run, eu demorei um pouco pra acreditar que era verdade, as primeiras perguntas eram: porque eu? será que é verdade isso? é tudo pago mesmo? com a Elite mundial? Era tão real quanto minha existência na face da terra!
Como eles são super organizados, já mandaram a programação – inclusive perguntaram quantos dias eu gostaria de ficar no evento – algumas coisas que são necessárias em uma viagem não seriam custeados por eles e eu precisei através da Escola (Mountain School Brasil) deixar isso certo e programado: dinheiro local em espécie encomendado, seguro viagem e um descritivo com tudo que eu precisava saber – estava impresso no meu guia de viagem.
O voo, que saiu de Curitiba, era direto e eu achei o máximo só ter apenas 1 conexão (por conta das poucas opções de voo para o aeroporto em San Martin, acabaram pegando um hotel em Buenos Aires – minha primeira parada) com isso só deu tempo de catar um taxi, chegar no hotel e descansar porque no outro dia meu trecho final era muito cedo (já deixei combinado para o taxi vir me pegar e assim me fui).
Chegando com um voo de aproximadamente 1h30 no aeroporto Chapelco, o mais próximo da cidade, menos de 30 minutos. Paisagens lindas até pousar, um misto de cores e movimento de terreno. Chegamos e já tinha um traslado nos aguardando, coisa fina, nunca me senti tão importante.
Malas deixadas no hotel – que também era o local da entrega dos Kits – estava tudo muito confortável.
Infelizmente nesta viagem o Marco acabou não indo junto comigo, senti muito a falta dele, aproveitei as companhias que tinha, andei um pouco pela cidade, fiz pelo menos 2 treinos curtos para sentir como as pernas estavam, o pescoço e as costas estavam bem tensos e precisei marcar um horário com uma massagista, pensa numa massagem gostosa! Aproveitei muito as horas em San Martin, cuidei bem da alimentação, fazia um café bem reforçado (com o que já estava acostumada a comer, infelizmente a comida não é igual a que temos no Brasil, o saudade viu?) mas me virei bem pra não ter problemas futuros, principalmente na prova.
Minha companheira de quarto era a Nuria Gil, uma atleta espanhola com um currículo fortíssimo e de muito respeito, uma pessoa sensacional, como pessoa, atleta e também era fisioterapeuta.
Tivemos um momento muito especial chamado Cara a Cara com a Elite, onde aproximadamente 180 pessoas participaram, foi um momento de conversa com um congresso técnico, porém era aberto para que os corredores pudessem fazer perguntas aos atletas de Elite e eu tava lá gente, ui, que coisa linda! Claro que eu chorei muito quando peguei aquele microfone, como não me emocionar com tudo aquilo? Agradeci muito por tudo e por toda energia recebida para chegar até ali. Ao final, fizemos um treino de 6 km para confraternizar com toda turma de corredores que ali estavam.
O grande dia chega e meu coração estava tranquilo, eu sabia do propósito de estar ali, estava muito consciente, feliz e sabia das minhas condições. Eu não queria voltar a sentir as dores de lesão, seriam elas as minhas predições para dizer: ou vai ou para! Na primeira parte eu precisei me concentrar muito para não fazer besteira – era o trecho mais pesado, com um subida no morro do Chapelco (subida do Filo) e realmente judiou bastante das panturrilhas, estava sofrido, mas muito bom. Dei uma reagida legal na segunda parte da prova que também tinham morros menores, porém eram um atrás do outro.
Nas partes planas eu fazia de tudo para me manter focada e correndo, chegou um momento em que eu não via mais ninguém, fui perdendo as referências, fui criando pequenas metas de tempo para chegar em alguns kms pontuais, lembro que passei o 21 km para 2h30 minutos e queria fazer a segunda parte próximo a isso, queria muito correr abaixo das 5h e assim eu fui, subida a subida, partes planas em ritmo controlado para anular a possibilidade de andar, eu só pensava: resista, aguente, suporte, no mundial será pior, mais difícil e você vai precisar estar forte!
Assim eu seguia a cada curva, a cada momento duro com muita vontade de andar. A última e mais desafiadora meta ao fechar a última subida da prova, lá no cume o staff me alerta: faltam apenas 3 km e era somente descida! Olhei no relógio e estava com 4h45 minutos, eu pensei: será que dá? Lembrei dos meus testes de 3 km, ativei meu pendrive, eu aguentei 3 km por 15 minutos, bora que dá! Fazia tempo que não fazia tanta força para descer, foi bem desafiador e eu lembro de voar nas curvas e quase perder o controle, mal dava pra respirar. Nas curvas finais era muita gente gritando: Vai Brasil, avistei brasileiros e muita gente que nem conhecia de outros países, eles se alegravam com minha coragem, força e alegria, com milésimos de segundo eu avistei os 4 pórticos, lembrei que os narrador tinha falado na largada que valia o tempo e acabava a prova somente no último, que força eu fiz pra cruzar, não tive câimbra a prova toda, mas metros perto do pórtico minha canela gritou, PARA LOUCA! Precisei reduzir um pouquinho, olhei os segundos passando bem na minha frente e eu fiz o melhor que poderia, sem palavras para expressar aquele momento único, eu cheguei, 5h04 segundos, meu deus! Que felicidade! Que frio que eu passei na prova toda, inacreditável gente!
Já tinha me falado desta prova, mas eu não imaginava que seria assim! Não vejo a hora de enfrentar a próxima linha de chegada. A Patagônia Run me preparou para subir mais um degrau, tô pronta!
Um pouco sobre a prova:
Patagonia Run é um evento do Campeonato Mundial Spartan Trail. A corrida “Non Stop” oferece distâncias que variam de 10 km, 21 km, 42 km, 70 km, 100 km e 160 km indicado para iniciantes, amadores e profissionais, na qual o participante enfrentará desníveis, inclinações, rios e estará cercado da beleza incomparável das áreas protegidas do Parque Nacional Lanín. Um festival de quatro dias do nosso esporte que permite a corrida de corredores de todos os tipos nas trilhas, com sete distâncias para escolher, terreno macio e caminhos de baixa tecnicidade.
A acolhedora cidade de San Martin de los Andes oferece toda a estrutura necessária para satisfazer o visitante. Localizada a 640 metros acima do nível do mar, em uma característica natural dos Andes da Patagônia, possui montanhas cobertas de florestas, rios de água transparente e uma rica biodiversidade, a prova acontece em uma época onde a floresta é bem colorida.
Considerado o maior e mais prestigiado festival de trilha e Ultrarunning da América Latina, a Patagonia Run recebeu milhares de corredores na última década na pitoresca vila montanhosa de San Martin de los Andes. Na edição de 2023 foram mais de 6 mil corredores de trail.
Eu tive a oportunidade de correr os 42 km, fui convidada pela organização para representar nossa Elite nacional. Já estive em San Martin em 2016 para correr o El Cruce de Los Andes, uma prova por estágio. Retornar a San Martin foi algo incrível, não lembrava o quanto o frio lá é diferente e as paisagens deixam a gente hipnotizada, uma prova que permite uma ótima progressão de corrida, com altimetria desafiadora, em sua primeira parte o maior ganho altimétrico, fazendo com que o participante tenha uma boa estratégia e controle de corrida para que não prejudique a segunda parte da prova.
A organização é impecável, achei bem interessante a parte do acolhimento, tinha tradução em 3 idiomas ( português, espanhol e inglês) aproximando ainda mais os participantes que vieram de outros países. Fazia tempo que eu não participava de uma distância onde tudo estava super redondo em questão de marcações do percurso, pontos de abastecimento bem completos com variedade de bebida e alimentação. Com certeza estará no meu calendário para 2024.
No Canal da MSBR você encontra o vlog contando mais detalhes! Corre lá e não esquece de dar like no Canal.
Um forte abraço,
Letícia Saltori